segunda-feira, 5 de março de 2012

A Mudança

Foi próximo de completar sete anos, quando soube que seu pai abandonara sua mãe, grávida, e a Nona na sua infinita sabedoria teve uma conversa, inserida de uma série de observações, com Eden, com certeza a mais longa, preocupada com a situação que se apresentava, sabendo que, preparado ou não, sua genitora e seus irmãos precisavam dele.
E o levou até aquele lugar longínquo. A mãe de Eden a princípio ficou preocupada, pois seria mais um para se preocupar, mas após ser tranqüilizada pela Nona informando que apesar da pouca idade aquele garoto estava preparado para auxiliá-la e, faria o possível, para que toda semana a viesse visitar. Promessa essa cumprida até próximo de seu falecimento.
Naquela noite Eden como não pode ir à missa, ensinou aos seus irmãos todo o ritual e orações antes do jantar e ao dormir.
No dia seguinte, Lui o levou para rua para brincar, situação esta estranha, pois onde morava a Nona não permitia essa situação. Além do mais se é que pode ser chamado de rua um triozinho cheio de mato, onde o vizinho mais próximo estava a ½ Km de distância. Eis que aparecem dois garotos, agarram o Lui e num rápido movimento tira seu calção e começam a enconchá-lo. Comportas de revolta se abrem com um estampido em sua mente, ondas de sentimentos o atropelam e numa atitude inconsciente, pega metade de um tijolo bate na cabeça de um deles vindo a desmaiar sendo que o outro moleque saiu correndo. Pega Lui o coloca para dentro de casa, onde o mesmo informou que além dessa situação, era vítima de espancamentos rotineiros, nos seus olhos havia alguma coisa, como um náufrago que se ergue a tona para ser salvo.
No começo da noite vieram três soldados, o garoto que foi atingido era filho de um deles, o objetivo era prender o “homem” que tinha feito aquilo. Quando viram que era um menino, talvez com menos idade do que o garoto que tinha sido atacado titubearam, mesmo assim o levaram para a delegacia. Foi o primeiro contato que Eden teve com o Sargento Bezerra. Este ficou espantado com a habilidade que aquele menino soube se defender e o liberou, ou melhor, acompanho-o até sua residência onde constatou a situação difícil que sua família estava enfrentando, isto ajudou Eden nas vindouras, digamos, peripécias que veriam acontecer no futuro.
Naquela noite Eden entendeu se quisesse sobreviver numa situação diferente da que estava acostumado e, mais importante, sua família dependia dele, teria que haver uma radical transformação de todo o universo que conhecia tanto físico, moral e social em que ele vivia, e pela primeira vez não rezou.
Como na obra de Nicolau Maquiavel que identifica uma qualidade fundamental a qualquer príncipe: VIRTÙ (palavra italiana que para Maquiavel significa energia, decisão, capacidade, empenho, vontade dirigida para um objetivo – em latim vir=homem)
O fato em questão ficou marcado na região, logo a noticia se espalhou, e com ele o respeito tanto por parte de Lui, agora se sentia protegido pelo irmão mais velho como também pelos moleques da vizinhança.
A sobrevivência da família resumia no que a Nona trazia, com dificuldades, nos finais de semanas, das poucas frutas e da plantação de batata doce da chácara.
A chácara próxima de sua casa era do seu tio, lembra? Porisso seu pai comprou o terreno onde construiu a casinha que moravam. Pois é, lá trabalhava um senhor, alto, negro com o qual Eden fez amizade e também com um filho seu que era da mesma idade, Isaias.
Como teve que matricular o filho na escola aproveitou, com o consentimento da sua genitora, a inscrever Eden também. Conseqüentemente os dois garotos ficaram amigos.
Isaias tinha uma caixa de engraxate velha, e a usando como modelo, construíram uma nova, se tornando “sócios” começando com os sapatos da vizinhança.

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