segunda-feira, 5 de março de 2012

Em nome do filho

A Nona logo percebeu que com aquele dois a criança não teria a menor chance, além das constantes brigas e falta de responsabilidade na tinham a menor vocação para assumirem o papel ali exposto, então ela praticamente adotou Eden.
Passaram-se quatro anos, o pai de Eden tinha comprado um terreno na divisa do município, construído uma casa rudimentar e se mudaram. Convém relatar que o lugar era encostado a uma chácara pertencente ao seu cunhado, casado com sua irmã mais velha. Porém não tinha energia elétrica, a água tinha que ser tirada de um poço, os meios de transporte era extremamente precário, além de ser um lugar longínquo para os padrões da época. Nesse tempo já tinha nascido um irmão, Lui e uma irmã, Sasinha.
A vida de Eden com a Nona era relativamente boa, além da educação religiosa, pois se era uma coisa que ela gostava era de ir à missa, três vezes por dia, de manhã, a tarde e a noite. Acreditava e se pegava na esperança que a única arma com o qual nenhum outro ser contava: a religião. Não exatamente aquilo que vem à nossa cabeça quando pensamos em religião, mas algo realmente abstrato: a idéia de acreditar que existe alguma coisa maior, além da vida. Eden, apesar da pouca idade era tão adestrado com relação a missa que, automaticamente, repetia todo o ritual dando esperança a Nona para uma, talvez, carreira religiosa.
Outra coisa era que ela lavava roupa para os moradores de um prédio próximo, sendo que Eden sempre a acompanhava nas buscas, entregas e negociações, arte última esta que o ajudaram a desenvolver raciocínio lógico matemático. Percebendo isso e quando estava com cinco anos, a Nona já o autorizava a executar a tarefa em questão, e levando vantagem devido o fato de que ninguém queria discutir com aquele menino, alem do respeito adquirido com a “clientela”.
“Graças à abundância da água que lá havia, como em nenhuma outra parte, e graças ao muito espaço de que se dispunha no cortiço para estender a roupa, a concorrência às tinas não se fez esperar; acudiram as lavadeiras de todos os pontos da cidade, entre elas algumas vindas bem longe. E, mal vagava uma das casinhas, ou um quarto, um canto onde coubesse um colchão, surgia uma nuvem de pretendentes a disputá-los.” Trecho do livro “O Cortiço”, de Aluisio de Azevedo, escrito em 1890.
O pai de Eden uma vez por semana vinha visitar o filho, mas por falta de afinidade o que ele fazia era ler gibi (revista de história em quadrinhos) o tempo todo. Aquele garoto ficava a observá-lo, a maneira como deitava encostado em dois travesseiros, com as pernas cruzadas e os lábios mexendo fazendo um som como um sussurro. Então quando ia embora Eden pegava algum dos gibis que havia esquecido e o imitava como se também estivesse lendo.
A Nona, observadora que era ou talvez por pena, o fato é que conseguiu que uma moça, filha de uma freguesa, desse aulas particulares para Eden, em troca de desconto na lavada das roupas. Foi só ele aprender a juntar as letras dentro dos balões das falas dos personagens dos gibis que sua leitura se deslanchou, sendo motivo de espanto até pela menina que o estava ensinando.
Porém, diferente de seu pai, a sua mãe o visitava uma vez por mês, além das noticias de sofrimentos do marido impunha a família, sobretudo resultado do alcoolismo, que escutava quando estava falando com a Nona. Observava seus irmãos, Lui e Sasinha, bem mais magros que ele, conhecia o histórico de doença do irmão, principalmente que seu nascimento tinha sido complicado. Mas aquelas aparências...., isto o deixava indignado.

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