terça-feira, 30 de março de 2010

O CABO ELEITORAL

- Com licença, posso entrar?
- Pois não!
Entrou, sentou em frente a minha mesa e foi logo dizendo que era cabo eleitoral de um deputado federal, citando o nome e sobrenome do mesmo.
Espantei-me, não sabia que tinha um homônimo de tal importância. Mas, por via das dúvidas, pedi que aguardasse um instante e fui à outra sala e, via telefone, entrei em contato com um amigo, com muita influência no meio político, que poderia me informar se havia o tal deputado com o mesmo nome e sobrenome do qual fui registrado.
Após a pesquisa, e ser informado que não havia nem vereador de cidade pequena com a grandiosidade desse nome (?), voltei para minha sala. Pedi um café para dois e, enquanto saboreávamos aquele pretinho, fresquinho, passado no saco, me ajeitei na cadeira, pois sabia que aquela conversa seria muito interessante e perguntei ao dito cujo:
- Qual era seu objetivo?
Começou falando de um projeto – por sinal, muito faraônico – e que ele e o nobre deputado pretendia implantar naquele determinado Parque.
Falou também das qualidades do referido deputado, de tal maneira que comecei a sentir um formigamento na cabeça.
Eu, que raramente sou elogiado, quando muito, escuto:
- É... seu trabalho ficou bonitinho!
Mas, como num filme de terror, entra um companheiro de trabalho e se dirige a mim pelo sobrenome do qual sou mais conhecido.
Ao escutar, o sujeito vira uma estátua e, de repente se levanta da cadeira, faz uma volta de 180º no calcanhar e, rapidamente, foi embora, sem olhar para traz.
- Que pena, nunca mais vi o meu cabo eleitoral!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ô MEU

Ô MEU é o apelido dele. Desse jeito mesmo, com chapeuzinho no “O” e separado, imitando o sotaque paulista que tanto os cariocas gostam de fazer.
Ô MEU é carioca de nascimento e paulista de coração. O apelido pegou de tanto ele chamar as pessoas desse jeito - “ô meu...”
Ô MEU é um sujeito de bom papo, sendo um grande freqüentador de boteco, tem muitos amigos.
Se a conversa for de política ele manja, de futebol também, em velório faz a festa, casamento, só no salão, se deixar ir à igreja reza a missa no lugar do padre.
Aonde ele chega faz amizade rápido. Lembro que um amigo em comum ficou hospitalizado durante uma semana e Ô MEU foi visitá-lo todos os dias.
Numa dessas visitas o acompanhamos e, na hora de ir embora, Ô MEU fez a gente parar em alguns botecos próximo ao hospital e não é que conhecia quase todos os freqüentadores, sem falar que já tinha conta em todos eles.
Pois é, esse é o Ô MEU, só tem um defeito, quando começa a beber na sabe parar.
Uma vez ou outra sua mulher liga para seus amigos, preocupada, pois sendo de madrugada ainda não chegou em casa.
Uma de essas vezes sairmos à procura do mesmo, nos dividimos em duplas para facilitar a busca, até que alguém ligou no celular avisando da sua localização. Dirigimo-nos ao local, as cinco da matina e Ô MEU ainda mamado.
Várias vezes tentamos convencê-lo a entrar no carro, mas dizia, com a língua ainda presa, que só iria junto com seu amigo Magrão, que o tinha escutado a noite toda.
Dizia que esse seu novo amigo não falava, mas era um grande ouvinte, portanto, só iria embora se levasse o Magrão também.
Foi aí que alguém gritou:
- Ô MEU, larga esse poste e vamos embora!
Com muito custo, conseguimos levá-lo para casa.
Uma vez ou outra, ao passarmos perto daquele poste, alguém sempre pergunta:
- E aí Ô MEU, você não vai cumprimentar seu amigo Magrão?

sexta-feira, 5 de março de 2010

HOMENAGEM AO DIA DAS MULHERES

QUANDO AS MULHERES DOMINAREM O MUNDO

Conversa entre pai e filho, por volta do ano de 2031, sobre como as mulheres dominaram o mundo.
- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho... Elas planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos. Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião.
Parecia brincadeira. Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo.
- E aí, papai?
- Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela... Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. Oi querida!, Por exemplo, era a senha que identificava as líderes. Celulite eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam O regime.
- E vocês? Não perceberam nada?
- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados.

E o que é pior: continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneira, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios.
Essas coisas de homem.
- Aí, veio o golpe mundial !?
- Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa.

Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica.
Pobre Presidente...
- Como era mesmo o nome dele?
- William, acho. Tinha um apelido, mas esqueci...
Desculpe, filho, já faz tanto tempo...
- Tudo bem, papai. Não tem importância.
- Naquela manha a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam.
A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora...
Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora.
Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona.
- Pai, conta mais...
- Bem filho... O resto você já sabe. Instituíram o Robô Troca-Pneu como equipamento obrigatório de todos os carros... A Lei do Já-Pra-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho...
E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês...
- TPM ???
- Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... É quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear....
- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai...

- Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas...

Luiz Fernando Veríssimo

terça-feira, 2 de março de 2010

F L A G R A N T E

De repente alguém bateu na porta, rápido, vestiu a roupa e mandou a dita se esconder. Abriu a porta, era a matriz.
Mô, já que você vai fazer serão no trabalho, vim ver se precisa de alguma coisa!
Mas, ao olhar o safado percebeu que havia alguma coisa errado, saiu e, logo em seguida, voltou com as quatro irmãs, 15 sobrinhos, resumindo, tinha até cachorro, fora os paus de vassouras.
Nesse tempo a filial percebeu que iria dançar, não deu outra, se enfiou numa prateleira onde são colocados canos de plástico, deitada, apertada e a ponta dos pés para fora, como o gênio da garrafa.
Procura daqui, procura dali, e o anjo do marido com uma cara de quem não estava entendendo nada.
O cão começou a latir, todo mundo correu para aquela prateleira e viram uns dedos malcheirosos.
Agarraram aquele pé e o puxaram e, como um passe de mágica, apareceu àquilo vestida como veio ao mundo, que de gênio não tinha nada.
Foi paulada, puxão de cabelo, orelha, latido de cão e pena para todo lado até que a dita saiu correndo de calçola e roupa na mão.
Depois que todos foram embora, o desavergonhado ficou pensando como foi dar essa bandeira e, ao olhar para baixo, caiu a ficha, na pressa tinha vestido a cueca por cima da calça.